Existe a necessidade de nos questionarmos sobre a possibilidade de o Brasil estar facilitando o acesso de outras nações ao precioso acervo da produção científica de suas universidades, patentes, estudos e pesquisas das empresas.
É preciso avançar nesse processo, pois informação é o bem contemporâneo
mais valioso. Seu domínio é um imenso diferencial de competitividade. Ademais,
trata-se de algo diretamente ligado à segurança nacional, à medida que há
elementos fundamentais a serem protegidos, como os referentes às
potencialidades do Brasil: área agriculturável disponível, maior reserva
hídrica e também biodiversidade do planeta, grande produção de alimentos,
biocombustíveis, óleo e gás. Ante os olhares internacionais, o País precisa
preocupar-se em blindar seus dados estratégicos.
No entanto, independentemente da espionagem estrangeira, é necessário
nos questionarmos sobre não estarmos, nós próprios, facilitando o acesso de
outras nações ao precioso acervo da produção científica de nossas
universidades, patentes, estudos e pesquisas das empresas. Sabemos que um
imenso volume de conteúdo de nossas instituições é hospedado em plataformas de
Tecnologia da Informação (TI) localizadas em países distintos, inclusive nos
Estados Unidos. É seguro esse processo?
MODELO EM RISCO
Por mais que se tenham cuidados jurídicos nos protocolos e contratos, sabe-se que a informática e a internet são campos suscetíveis às intromissões indesejadas. Se os norte-americanos conseguiram quebrar as barreiras criptográficas do sistema de computadores da presidência da República brasileira, o que dizer de arquivos hospedados na sua casa? Talvez haja, aí, uma contradição: ao mesmo tempo em que conclamamos a ONU a impedir a espionagem na web e nos sistemas eletrônicos de informação, mantemos um modelo que, por si só, expõe a risco o nosso patrimônio de conhecimento.
Por mais que se tenham cuidados jurídicos nos protocolos e contratos, sabe-se que a informática e a internet são campos suscetíveis às intromissões indesejadas. Se os norte-americanos conseguiram quebrar as barreiras criptográficas do sistema de computadores da presidência da República brasileira, o que dizer de arquivos hospedados na sua casa? Talvez haja, aí, uma contradição: ao mesmo tempo em que conclamamos a ONU a impedir a espionagem na web e nos sistemas eletrônicos de informação, mantemos um modelo que, por si só, expõe a risco o nosso patrimônio de conhecimento.
Barreiras não são suficientes para impedir que as raposas entrem no
nosso galinheiro, se, espontaneamente, entregamos parte de nossas galinhas para
que lobos, em seu habitat natural, tomem conta delas. É um contrassenso. Temos progredido a
passos lentos, mas consistentes, na área de pesquisa e inovação. Ainda
precisamos evoluir no número de registro de patentes, proporcionalmente muito
mais baixo do que o volume de publicações científicas. Assim, não é prudente
expor nosso acervo científico aos perigos agora evidenciados pelas denúncias de
espionagem praticada por agências dos Estados Unidos.
É preciso refletir sobre a questão, entendê-la em profundidade e, se for
o caso, adotar as medidas necessárias. Há uma lição de casa a ser feita, com a
participação de instituições como o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), o Instituto de Tecnologia da Informação da Casa Civil
(ITI) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
No ano passado, ao participar de um debate na Câmara dos Deputados sobre
pesquisa e desenvolvimento, coordenado pelo deputado Newton Lima, um diplomata
brasileiro especializado no tema confessou que países como Estados Unidos e
Coreia do Sul mantinham departamentos especializados em capturar conhecimento
nas publicações de cientistas brasileiros. Estamos entregando o ouro ao
bandido?
*ANTONINHO MARMO TREVISAN é presidente da Trevisan Escola de
Negócios e membro do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo e do
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.
Fonte:Revista Geografia
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